A greve de professores diante o olhar de Ana Borges

O espaço coberto por secretárias, cadeiras, quadros a giz e estudantes, apoderam-se hoje de um silêncio, aliado à reivindicação dos diretos de quem educa. A greve dos professores surge de forma inesperada e sem um fim próximo, colocando em causa a educação de um país. Professora de Geografia do Ensino básico e secundário em Felgueiras, Porto, Ana Borges expressa nunca ter visto, em vinte e dois anos de carreira, a classe docente tão unida, numa época em que as condições laborais não são favoráveis.

No que toca à estagnação educativa, “os docentes usufruíram sempre do seu direito à greve”, menciona Borges, satisfeita com as proporções do momento, não se esquecendo que sempre existiram. A professora afirma estar a favor “desta luta”, não só porque afeta diretamente os professores, bem como, influencia o destino do ensino público, a preocupação mais recorrente do corpo pedagógico.

Na ótica de Ana Borges, as presentes paralisações não advêm de uma única situação, argumentando que, “a razão da greve já vem de há muitos anos”. Neste seguimento, a mesma realça que a duração desta interrupção “não irá terminar tão cedo”, na medida que as respostas obtidas pelo governo não correspondem às expetativas dos professores, o que consequentemente, provocou o “mau estar nas escolas”, revela [triste].

Ana experienciou episódios de instabilidade na carreira de docente, em Portugal, justificando que os professores a contrato, sujeitam-se a ficar colocados, longe das suas casas, tendo por vezes horários incompletos e salários baixos. “Em pleno século XXI num país desenvolvido como o nosso, isto não deveria acontecer”, denota a professora.

Relembra os anos em que aguardava ansiosamente por uma resposta, ano a ano, de forma a saber se ficaria desempregada, dispõe descontente ao ter vivido dezasseis anos em contrato e questionar-se, “em que profissão isto acontece mais? Em mais nenhuma!” acrescenta [sorriso irónico].

É a paixão de educar que conduz à persistência dos professores, na ânsia de obterem mudanças e resultados pensados num bem comum. “O governo teima em fazer ouvidos moucos”, revela. Desta vez, mais que nunca, os professores pretendem usar a sua melodia vocal até alcançarem o progresso e estruturação da educação, pois o povo só consegue “alguma coisa através da voz”.


por Joana Mendes e Rui Morais

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